quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

USP: autonomia seletiva - A universidade só deixará de ser uma ilha quando realmente for pública



USP: autonomia seletiva
A discussão não deve ser o convênio entre USP e PM, mas sim como este se deu (foto: Nelson Antoine/Arena-Folhapress)
Tem sido dito pelos que defendem o convênio entre a USP e a PM que não se pode tratar a Cidade Universitária como algo que está fora da cidade de São Paulo. A própria reitoria tem feito discursos nesse sentido. E é verdade: a USP faz parte do território paulistano, paulista e brasileiro, mesmo sendo uma autarquia. Ter autonomia, afinal, não é o mesmo que ter soberania.
Agora, se a Cidade Universitária está sujeita a todas as leis municipais, estaduais e nacionais e deve ser tratada como qualquer outra parte do território, por que ela se fecha – material e intelectualmente – ao resto da sociedade? Por que a mesma reitoria que agora afirma a não soberania da USP teve o poder, há alguns anos, de vetar a construção de uma estação de metrô dentro do campus? Por que em uma universidade pública, financiada pela sociedade, esta não pode usufruir de seus espaços livremente sem uma carteirinha? 
Seria realmente desejável que os que defendem a integração nesse caso fizessem-no em tudo o mais. Isso porque a Cidade Universitária não deixará de ser uma “ilha” por causa de um convênio com a PM. Deixará de sê-lo no dia em que não for hostil aos que “não possuem carteirinha”, quando a comunidade São Remo, ao lado, deixar de ser vista como antro de criminalidade ou fonte de mão de obra para os serviços terceirizados da universidade e passar a ser vista como uma comunidade que detém o direito sobre aquele espaço, tanto quanto qualquer outro cidadão. Afinal, não é a Cidade Universitária um espaço como qualquer outro dentro da capital paulista?A USP virou uma terra de autonomia seletiva. Na hora em que convém a determinados interesses, há, sim, bastante autonomia para afastar a “gente diferenciada” que viria de metrô para dentro de seus muros. Mas, na hora em que não interessa, a autonomia some e o “campus é parte da cidade”. O discurso da segurança serve para defender ora o segregacionismo, ora a integração. Aparentemente estamos condenados a ser eternos reféns das “razões de segurança”.
Acima de tudo, a USP deixará de ser uma “ilha” quando realmente for uma universidade pública, na qual toda a sociedade possa usufruir seu espaço e o conhecimento lá produzido não atenda apenas às demandas do capital privado – o que é legítimo, mas de modo algum suficiente. O papel da universidade deve superar o ensino e a pesquisa. É necessário que haja extensão, isto é, que se trave um diálogo horizontal entre o conhecimento universitário e o restante da sociedade, em um processo que a traga para dentro da universidade, e vice-versa, tanto física quanto intelectualmente.

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